Desenho digital, Talita Nazaré, 2023.

Muita coisa parte de decisões, causa e consequência. E tem gente que dá azar. O caminho e uma série de decisões erradas nos aprisionam em um ciclo indesejado. Alguns erram mais que outros, é verdade.

Mas, ao olhar à minha volta, vendo meu pai sofrer morando sozinho, depois que a família toda saiu de casa, não sei o que é mais difícil: seguir meu caminho e deixá-lo ou abandonar meus projetos e a descoberta do mundo pra ajudar, nem que seja um pouquinho, por lá.

E, nesse impasse, nada me leva a crer que existe uma receita. A vida é esse emaranhado. Tem gente que tem mais sorte, ou tomou uma decisão inteligente, pra conseguir sobreviver.

Tem gente que nasce com mais poder de escolha que outros, e por mais que tome uma série de decisões erradas, consegue sair do ciclo. Consegue dar a volta por cima, porque a rede de apoio é bem maior. Tem gente que não.

É nisso que penso… Sempre achei que tinha menos poder de escolha, mas meu rosto meio bonito, meu corpo magro e minha pele branca me ajudam um pouco. Ter morado longe da criminalidade também. Ter tido acesso à educação, livros e música desde sempre também.

E no entanto, sair do ciclo de pobreza, vícios e relações disfuncionais tem sido difícil.

Esse post é meio desencorajador. É um desabafo. Hoje li uma passagem de Fernanda Montenegro e pensei: “As escrituras falaram comigo” (apenas uma piada, porque minha cunhada vive repetindo isso). Dizia: O amor no século XXI é a justiça social.

Sim. É impossível ver com lucidez o que de fato é amor quando somos bombardeados de conteúdo e informações sobre o que é o amor, como ter uma relação saudável, como e o que é ser feliz, o que é ter sucesso (em vídeos de 60 segundos!!!), como conseguir o despertar, como viver melhor, como ser alguém fora da curva… etc., etc.

É isso que é o amor? Fazer o bem a quem? A si mesmo? Repetidamente? É conseguir status, reconhecimento, amigos, uma namorada bonita, um corpo perfeito? É conseguir trabalhar menos e ganhar mais? É ter dinheiro na conta, muitas viagens e experiências incríveis? É conseguir alcançar o que só 8% da população consegue? É consumir ao invés de ser consumido?

Existe um discurso que repito pra mim mesma, e torço pra que seja verdade, que é o de que não conseguimos ajudar o próximo se nós mesmos ainda precisamos melhorar quem somos.

Além da vaidade, é isso que me move pra sair de casa: procurar uma renda melhor, ter saúde, ter sanidade, ter repertório e poder ser recebida e acolhida onde passo.

Mas, não raro, me vejo presa em um ciclo de prazer imediato, seguido por uma frustração gigante, por não conseguir ajudar quem amo, e nem a mim mesma.

Então, retorno pra ideia de sobrevivência, de que cada um descobre a maneira de se manter vivo, assim como o ser mais pequeno. E, no entanto… que tipo de amor nos diferencia?

Talita Vasconcelos

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